Mães nunca desistem

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rosana pandim

(por calcinha de oncinha)

Há muito tempo evitava assistir ao filme “A Troca”. Mas, neste fim de semana, decidi vê-lo. O sumiço de um filho é algo que assombra as mães. A dúvida se ele está vivo ou não. Que sofrimentos estará passando. Os dias que se somam e viram meses e viram anos. A notícia que nunca vem. A dor que nunca passa. Porque mãe acorda no meio da noite pensando se o filho está com frio. E vai cobri-lo. Mas ele não está lá. A cama vazia. Arrumada.

Walter Collins

Walter Collins

O filho de Christine Collins desapareceu. Porém ainda havia mais o que tirarem dela. É uma história tão absurda que, acho, nenhum escritor teria imaginado. Só uma coisa não é surreal. A mãe que não desiste. Como as mães da Praça de Maio.

Foi uma coincidência ver este filme, logo após ter escrito sobre outras mães em busca de seus filhos. Às vezes não são filhos biológicos. Mas o sentimento de proteção maternal é o mesmo. Como o amor de Sunita Krishnan pelas meninas que ela resgatou da exploração sexual. Como o amor de Dhoroty Stang por pessoas que não têm quem as socorra. Falei sobre estas mães, estas verdadeiras mães. Porque, claro, existem as mães que não são mães de verdade. Mas estas são exceção.

Christine Collins foi vítima não só do desaparecimento do filho, mas de uma polícia e um sistema corrupto, numa escala difícil de acreditar até para nós brasileiros. Mas uma mãe de verdade não desiste nunca. Christine Collins não desistiu. Susana Trimarco não desistiu. Superaram forças violentamente contrárias aos seu inconformismo.

As fotografias de crianças brasileiras desaparecidas podem ser vistas no site do Ministério da Justiça ou em páginas de ONGs, como a Missing Kids no Brasil. Segundo o próprio Ministério da Justiça não existem estatísticas oficiais sobre crianças desaparecidas anualmente no Brasil. Mas são milhares. Talvez quarenta mil. Casos como o da pequena Rosana Pandin, desaparecida aos onze anos, desde 1973. A secretaria de segurança, na época, em plena ditadura, considerou o caso um “sequestro consentido”, embora não houvesse provas ou indícios, e só investigou um pouco mais pela pressão da imprensa. Sua foto ainda é exibida por uma mãe, D. Guilhermina, e irmãs que sofrem. Mas que ainda têm esperanças, passados trinta e seis anos. Mas seria injustiça não falar do pai de Rosana, seu Angelo. Ele comprou um fusca, onde colocava a mulher e as outras filhas dentro, e saía sem rumo em busca de notícias da filha sumida. Gastou um dinheiro que não tinha nesta procura, até em outros países da América do Sul. Morreu, aos sessenta anos, ainda esperando reencontrar Rosana.

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7 Respostas to “Mães nunca desistem”

  1. luci Says:

    sem duvida, ter filho é ter uma vida de sofrimento. dizem que vale a pena, mas eu, realmente, apesar de querer com absoluta vontade ter um filho (ou dois ou três), vou pensar algumas vezes antes de engravidar, porque… sabe esse trechinho de chico:

    toda noite ela diz
    pr’eu não me afastar
    meia-noite ela jura eterno amor
    e me aperta pr’eu quase sufocar
    e me morde com a boca de pavor…

    ?

    pois bem, é assim com o homem. é choro e é medo que ele não veja o carro que vem em velocidade ou que o carro não veja ele. ele é tão crescidinho e eu, ainda assim, tenho medo. agora IMAGINA como seria ter um filho?! nossa, eu nunca estaria em paz. colocar um ser humano tão pequeno, inocente e sem experiência de vida pra viver entre todos aqueles que tão sempre tão cheios de maldade. :~

    o corpo ta pronto pra ser mãe, mas a cabeça não aguanta ainda o fardo.

    pobre dessas mães!

    • calcinha de oncinha Says:

      Se nós pensarmos muito nos problemas da sociedade, com certeza não teremos coragem de colocar uma criança nesse mundo.
      Sou mãe e tenho um filho adolescente, imagina como me preocupo, mas posso ratificar que vale a pena.
      Abraço.

  2. Elen (dannah5) Says:

    Calcinha, olha, eu confesso pra vc q esse é o maior medo q me aflige, eu ja passei pela perda de uma filha mas por problemas de saúde e como mãe vejo que mais doloroso que dizer adeus eh nunca poder fazê-lo, é ter que viver com a incerteza e todos os questionamentos sobre o destino daquela criança q amamos.

    Acho que quem ama nunca desiste, obiviamente q temos pais e pais, aqui no Rio vejo pais que terceirizam seus filhos sem pestanejar, eles não passam de objeto de exibicionismo com os quais eles pouco convivem, talvez esses desistissem logo que a polícia parasse de procurar, mas a gente sabe q não dormiria nunca mais, não de verdade, não sem pensar onde estaria essa criança dormindo.

    Ai, não gosto nem de pensar, confesso q não tive coragem de ver esse filme, choro vendo tudo q é atrocidade, com crianças então, imagina!

    esse assunto eh tao dificil!

    Beijocas

    • calcinha exocet Says:

      Elen, confesso que quando assisti ao filme pensei que fosse ver coisas pesadas, mas somente no final é que acontece algumas cenas cruéis, não explicitas, apenas sugestivas. E como sou mãe, minha imaginação foi longe. Sinceramente, não sei se teria tanta força como a mãe do filme. A maior parte do filme mostra o drama psicológico da mãe, suas esperanças, sua desilusão no sistema. É um filme que me fez pensar, gosto de filmes assim. Também me sinto sensível a histórias como essa e tantas outras de crianças desaparecidas.
      Beijocas.

  3. Elen (dannah5) Says:

    Desculpe os erros de portugues, eh que a minha pequena de 4 anos ta falando um mantra aqui do meu lado pedindo biscoito, e eu sou pessima com distraçoes!!

    beijocas

  4. Calcinha de Oncinha Says:

    Olá Elen,
    Muito obrigada pelo comentário. Realmente fiquei muito aflita com o filme e mais ainda quando fui pesquisar sobre o desaparecimento de crianças. Acho que perder um filho é o maior temor de toda mãe. E o desaparecimento pode ser ainda pior, porque não se sabe o que o filho está passando, se é que está vivo. Ou seja, é uma dor imensa que não diminui. Horrível horrível. Mas achei importante ver que existe alguma estrutura para a busca das crianças desaparecidas, embora mais precise ser feito, principalmente a criação de delegacias especializadas em proteção das crianças e adolescentes, que não existe em muitos locais.

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